sexta-feira, 17 de dezembro de 2010



Todos Nós temos aqueles momentos que são tão
perfeitos que independentemente de onde o nosso
corpo for, de onde a nossa alma for,
eles vão ser eternos.

domingo, 5 de dezembro de 2010

*

Minha pequenina, que estás sentada nos tijolos...A minha música é a tua voz.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Once Upon a December

Lá estava eu a olhar para o céu e a sentir-me perfeitamente bem debaixo dele...
E mais iluminada que nunca, vi-o tão melhor.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O regresso a si

Naquela manhã Verónica saiu de casa...
Era um dos dias mais frios do ano, o mar estava batido mas o sol estava alto e o céu daquele azul claro de inverno.
Verónica tinha o seu longo cabelo solto, usava uma antiga camisa do irmão. Por vezes o seu cheiro fazia querer que ele estava ali e isso reconfortava-a.
Quando chegou à praia o vento estava de tal forma violento que não conseguia manter os olhos abertos. Descalçou-se e começou a caminhar.
Agora já estava bem, já se tinha habituado à ausência do irmão e já tinha feito paz com a partida do seu amor. Não estava escrito, simplesmente não estava escrito. Sabia que o irmão eventualmente voltaria, nos últimos tempos nem era por ele que o seu coração chorava. Chorava sim por aquele a quem ela se tinha dado, mas que o destino roubara. E doía... Mas a culpa era sua por ter feito o que fez, aquele não era o seu lugar.
Não, chega de pensar mais nele, chega de pensar também em Pedro, chega de pensar no que poderia ter sido, no que poderia ter feito diferente, em quem perdera.
Estava frio, estava objectivamente muito frio...Já não tinha mais lágrimas, não iria chorar mais...
Quando acabou este pensamento um sorriso involuntário apareceu-lhe no rosto e naquele momento decidiu subir às rochas cinzentas que dividiam a praia da cidade.
Deixou os sapatos a beira mar, percorreu o areal e começou a subir. Chegou lá a cima com os pés, as mãos e os joelhos em ferida e sorriu de novo. Sentou-me, abraçou os joelhos e pôs a cara entre os mesmos, agora só via o mar... Afastou da cabeça e do coração as fantasias de criança que tinha naquele mesmo lugar, onde via o pai e o irmão chegarem no seu barco...
Nada disso interessava agora, agora só ela, o céu e o mar tinham importância. Sorriu novamente, abanou a cabeça afastando os cabelos da cara que voltou a meter entre os joelhos. Durante instantes pareceu-lhe que alguem a abraçava por trás, mas ao virar-se não viu ninguém...

terça-feira, 30 de novembro de 2010

--'

Já tentei escrever-nos tantas vezes...Pedi Luz e chegaste pela luz...Estava escrito...Tinhas que entrar na minha vida para me mostrar qual o meu caminho e durante algum tempo caminhar a meu lado...Agora pergunto-me...Qual é o nosso Destino agora que já o cumprimos?Será que em alguma linha temporal por ai perdida continuamos a conhecer-mo-nos? Continuaremos abraçados? Será que nalgum tempo por ai deixado ao acaso seremos eternos?
Seremos eternos onde fomos felizes...Seremos eternos no debaixo dos holofotes seremos eternos nos braços um do outro, serei eterna enquanto me lembrar de como me levantaste do chão, enquanto me lembrar que tive parte de mim no palco que pisaste, serás eterno enquanto te lembrares que estive sempre lá. Seremos eternos enquanto não nos esquecermos...Foi o que foi sonhei, sonhei o que sonhei...Ensinaste-me muito, mas o mais importante que aprendi foi que os sonhos se realizam, e ao teu lado realizei todos os que alguma vez tive, todos os que sonhei. Por favor não te esqueças para que possamos ficar na porta dos sonhos, onde fomos realmente felizes. Nunca funcionamos fora dela, por isso por favor não te esqueças...

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Lembrei me de ti, meu querido O...

Porque...

Quem foste, quem amaste, quem quiseste,
O que quiseste, o que fizeste...
O que escreveste, o que pintaste...

Está tudo vivo.
Está tudo onde o deixaste...
Somos é outros a pisar aquelas ruas,
Somos é outros naqueles cafés...
Mas somos iguais aos teus e aos anteriores.

Somos quem foste, amamos quem amaste, temos quem quiseste...
Temos o que quiseste, fazemos o que fizeste...
Escrevemos, pintamos, dançamos, cantamos, estudamos e bebemos tal como Tu.

Está tudo vivo.
Está tudo onde o deixaste...
Porque estamos aqui e celebramos-te com cada livro, quadro, dança, canção, trabalho e ressaca.

terça-feira, 16 de novembro de 2010




Tão mais cedo do que pensei
Tão melhor do que pensei.

Mais forte do que julguei
Mais eterno do que aquilo que criei.

O meio para o meu fim
O meu meio.

domingo, 14 de novembro de 2010


Vou ser pirosa e dizer que um dia vou fazer a versão cinematográfica do "Belle Epoque"

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Jugoslávia, 1947

-Estás feliz?

Improvisei tanto as minhas palavras naquele dia como as estou a improvisar agora.
Estávamos ali, só nós os dois. Eu amava-o, ele amava-me e estávamos ali só os dois.
Os seus olhos procuravam sossego nos meus que lhe fugiam. Naquele quarto da pequena casa perdida na serra, o seu corpo apertou o meu, afagou-me o cabelo, aproximou a cara da minha de tal forma que senti o chão a sair debaixo dos pés. Repetiu:

-Estás feliz?

Agora eram os meus olhos que procuravam os dele desesperadamente. Anui e deixei sair um “sim” que rapidamente foi abafado pelos lábios dele. A noite já tinha passado e a manhã ia a meio. Continuávamos ali, só nós dois no quarto de onde, pela janela víamos árvores até ao horizonte. Naquele momento pertencíamos um ao outro e a mais nada nem ninguém.
Eu não menti. Eu estava feliz. Naquele momento eu estava extremamente feliz. Mas sabia que era efémero. Deixei-me ficar ali deitada nos seus braços durante 2 dias. Só nós. Deixei-me acreditar que seria eterno. Não foi.
Aquele era o nosso sítio. Fugíamos para ali e ambos fingíamos que conseguíamos esquecer os próprios e os problemas do outro. Nunca o fizemos…
Víamo-nos todos os dias, falávamos todos os dias, riamos todos os dias. Mas só nos amávamos ali. Acho que ele nunca soube o quanto o amava. A falta que ele me faz hoje… o que eu não dava para voltar para os seus braços numa clara manhã de Novembro. O que eu não dava para voltar a ver o orvalho na grande janela do quarto…o que eu não dava para ser feliz de novo.

domingo, 24 de outubro de 2010

segunda-feira, 4 de outubro de 2010


Paris, 1919
Sempre me sentira posta de parte. Não interessa de onde vinha, para onde ia, quem era…era feliz. Sempre fora uma felicidade precária, qualquer coisa me fazia cair do abismo e soluçar toda a noite.
Era feliz em casa e na rua. Tinha amigos e tinha amores. Mas soluçava toda a noite.
Entrei e sai de sítios e relações sem nunca encontrar o meu lugar. Tendo sempre um ninho em casa, com a minha família, nunca me senti enquadrada. A questão de não ter quem me compreendesse, não ter um sítio onde me fosse possível ser eu do nascer ao por do sol e, o mais difícil, ser eu durante a noite.
Ao longo do dia era distraída pelos risos, pelas vozes, pelas luzes pelos beijos e abraços. Quando a noite recaia sobre mim, fugia dela imaginando que era de dia noutro lugar, noutro tempo. Ou que era noite num sitio onde a noite fosse algo bom. Algo confortável e não uma escuridão que não acaba. E assim os soluços acalmavam, meios abafados pela almofada, meios abafados pela luz que vinha de dentro para fora.
Um dia enfrentei a noite. Sai à noite, sozinha e a confiar apenas em mim e no Céu. O Céu era o mesmo, eu era a mesma, só tinha que me entregar a ambos.
O chão estava húmido e a bainha da minha saia ficou castanha dois quarteirões depois de fechar a porta.
As muito intermitentes luzes amarelas espelhavam os postes na calçada preta que ressoava debaixo dos meus pés. Olhei à minha volta e ao contrário do que seria de esperar não tive medo. Não tive medo e continuei a andar. Passaram duas pessoas, duas senhoras s. Olharam-me de alto a baixo, sorriram-me e continuaram o seu caminho.
Começava a ter frio. Não queria entrar em nenhum dos poucos cafés que estavam abertos. No entanto era sempre um alívio passar por eles. A luz quente das lareiras e velas iluminou o meu caminho quando os meus fies candeeiros de rua decidiram fazer uma pausa.
De repente o frio fez com que os meus pés não avançassem mais. Apertava o peito com os braços. Pensei que ficava ali, gelada e sem luz suficiente para ver o Céu. Olhei para cima na mesma. Com o mesmo movimento de cabeça olhei para trás e vi um café. Era um café pequeno, praticamente cheio. A janela dizia o nome do café em letras amarelas muito desenhadas. Entrei.
Quando lá dentro, vi um espelho na parede. Nele vi uma mulher loura, muito pálida, com um vestido verde encharcado por causa da humidade da noite.
O meu olhar moveu-se para as paredes que estavam repletas, ora de garrafas de vinho, ora de livros velhos. Senti-me tonta e os meus pés deixaram de estar presos no chão.Um homem velho e gordo apressou-se a trazer-me um copo de algo forte e um cobertor, no qual me embrulhou. Convidaram-me a sentar numa mesa onde estavam duas mulheres e dois homens. Eles liam em voz alta as dissertações de um outro. Elas anuíam enquanto fumavam. Ao lado, dois homens riam sobre as suas bebidas, um grupo muito grande falava muito alto e alegremente. Os livros enchiam as mesas e estavam manchados pela bebida, um gato vadio dormia por cima do balcão.
Olhei para o meu colo, apertei as mãos uma na outra. Voltei a olhar em meu redor…tinha chegado.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010


Because I Knew You...
I Have Been Changed For Good!
12\08\08

sábado, 31 de julho de 2010

Somos Artistas

Somos o que há de pior e de melhor no mundo.

Somos a origem e o fim.

Somos o sim e o não.

A razão e a dúvida.

O amor e o ódio.

A verdade e a mentira.

A dor e o ardor.

Somos a fronteira entre a realidade e o sonho.



Somos a a Humanidade porque nela Somos.



Somos o Universo porque fomos nós que colorimos o que Deus desenhou.

domingo, 25 de julho de 2010

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Janela




Quando o sol baixava, ela sabia que a esperavam umas quantas horas de sofrimento e agonia. Porque que é que a noite era tão dura? Sem ter ninguém com quem falar, sem ter sono, sem ter vontade de escrever… para que servia a noite? Para reflectir sobre o quão idêntico ao de hoje vai ser o dia de amanhã?
Não, ela não via sentido na noite.
Obviamente que podia sair, divertir-se… ir até ao café, estar com os amigos. Mas a cidade à noite metia-lhe medo. Não era pelos sem-abrigo, nem pelos seus cães ferozes, não era pelos assaltos, ou pelo aspecto que dava uma mulher sair sozinha à noite. Era por ser de noite. Simplesmente não havia sentido na noite.
Ficava deitada na cama, a olhar para o tecto… pensava no atelier, pensava no vestido que tinha que fazer para a viúva Cardozo, pensava no poema que quase foi publicado, pensava na tia e na prima, pensava que tinha saudades delas, pensava nas cortinas, pensava se tinha dado comida ao gato e lembra-se que sim. Pensava, pensava, pensava e ocasionalmente dormia. Quando dormia, sonhava, sonhava que não era de noite. Que não estava escuro.
Certo dia acordou lavada em lágrimas. Porquê? Porquê? Estava cansada do escuro. Levantou-se para ir trabalhar. Sentou-se em frente à máquina de costura e olhou para o vestido e num arremedo deitou tudo o que estava em cima da mesa para o chão e começou a soluçar.
Porquê?
Foi até à pequena cozinha. Não havia nada que ela pudesse comer que ajudasse.
Sem saber o que fazer até ao nascer do dia, foi-se sentar à janela.

Só conseguia trabalhar de noite. No mês passado tinha vendido 25 quadros. Todos eles pintados de noite.
A cidade vista de noite. Oh, a sua cidade vista de noite.
Dormia e comia durante o dia, vivia durante a noite. Vivia sozinho, é certo. E depois?
Muitas vezes, acordava ao fim do dia, vestia uma camisa velha e saia para a rua. Andava por toda a cidade, com olhos de artista memorizava cada rosto, cada expressão, descobria a maldade por trás do riso, a bondade por trás do egoísmo, a dor por trás do sorriso, o genuíno por trás da discussão. Por vezes ia até ao rio e os olhos de artista eram reconfortados pelo azul dourado do pôr do sol. Quando retomava o caminho para casa já visualizava as cores e as formas que melhor ilustrassem o visto e o sentido. Era um homem feliz em todos os sentidos da palavra. A casa iluminada, cheia de pincéis e trapos velhos, os amigos pintores que discutiam política nos cafés escuros da cidade, que eram decorados com as suas obras.
Nunca experienciara o amor em pessoa. Sabia o que era e amava-o. Mas nunca o tinha sentido na pele e até se considerava sortudo. Para quê sentir algo que nos faz mais mal que bem? O seu maior receio era que ao deixar de ser espectador da vida, deixasse de a conseguir representar objectivamente. Não… estava bem assim.
Já passava da uma da manhã quando se lembrou mudar o cavalete de lugar. Aproxima-lo da janela, aproxima-lo da noite estrelada que ele tanto amava.
Quando chegou à janela, apercebeu-se de que não tinha sido grande ideia, dali só via prédios. Mas raramente ignorava um impulso.
De repente algo o distraiu da bela noite.
Ela no entanto estava tão concentrada na sua própria procura que não viu artista nenhum. Se um extraterrestre tivesse decido sair da sua nave ali no centro do bairro, ela não teria reparado.
Não sabia porque é que se sentia assim. Não fazia sentido. Chorou, chorou toda a noite.
Na tarde seguinte, ele começou o seu caminho para o café onde se iria encontrar com os seus amigos. Sentiu o sangue a gelar, sentiu frio e calor ao mesmo tempo. Encostada ao balcão a rir estava a rapariga que chorava à janela na noite anterior.
Por instantes pensou que estava maluco, como é que alguém que passou a noite a chorar, pode estar agora ali a rir com um grupo enorme que ele conhecia como sendo do jornal da cidade? Ao mesmo tempo sentiu-se um pouco culpado por ter passado a noite a olhar para a rapariga. Simplesmente não foi capaz de desviar as suas atenções do quarto iluminado pela luz das velas. Como é que alguém tão triste o iluminava? Como é que alguém sem olhar para ele, lhe deu mais força que o rio ao por do sol? Como é que esse mesmo alguém estava agora ali? Ele chegou a pensar que tinha sido um sonho.
Nessa tarde ela viu-o. Viu o rapaz com a camisa suja de tinta, a porta do café, viu que ele estava a olhar para ela e sorriu-lhe. Estava-se a sentir bem, já mal se lembrava da noite passada… já estava atrasada para o emprego, portanto despediu-se dos amigos e dirigiu-se a passo acelerado para a porta. Os seus olhos trancaram-se nos do rapaz sujo de tinta. De repente sentiu uma dor aguda por todo o corpo, não queria sair dali, mas os seus pés arrastaram-na dali para fora.
Ele sentiu um estranho alívio quando ela saiu. Não conseguia explicar. Não conseguia perceber que encanto era este. Era semelhante ao seu amor pela cidade. Pela cidade e pela tinta que a ilustra. A rapariga do cabelo ondulado e dos olhos curiosos era a cidade e a tinta que a ilustra.
-Quem era?
Perguntou, a resposta veio de um dos seus amigos, mas foi balbuciada e ele não percebeu. Qualquer coisa do jornal.
- Mas conheces?
Podiam ser quatro da tarde, mas os amigos já estavam a beber desde as 11, o que fazia deles um pouco ausentes e o seu discurso não muito fluente.
- Por vezes aparece aqui, trabalha ali, é prima do outro. Meu irmão, senta-te e bebe, que é o que fazes melhor.
Sentou-se, sentou-se e ficou a olhar para a entrada do café. O coração parava de cada vez que via um vulto desfigurado pelos vidros duplos da porta. Ela não voltou lá naquele dia, não voltou lá no dia seguinte. Nem no outro. E sem ela saber tinham encontro marcado todas as noites naquela janela. Todas as noites ele a amava, todas as noites ela o amava, mesmo sem saber.

Já não sabia porquê, mas não já não sentia necessidade de chorar, mas continuava a ir para a janela todas as noites. Levava a vela e ficava a olhar para o céu. Não deixara de se sentir triste, talvez já não tivesse lágrimas, uma razão química. Mas ela não era uma mulher da ciência, era uma mulher do amor. Oh, quanto gostava de pensar que existia alguém a olhar para a mesma lua que ela. Talvez tenha sido essa esperança a secar-lhe as lágrimas.
Nessa noite olhou pela primeira vez para cima, olhou para cima e pareceu-lhe ver alguém à janela a olhar para ela, mas não havia luz suficiente para distinguir a sombra. Assustou-se e saiu da janela. Foi dormir. Naquela noite adormeceu logo e sonhou, sonhou e não foi mau. Sonhou com um quadro enorme, era um quadro dela, muito maior que ela, maior que o prédio onde morava. De repente sentiu-se a ser puxada para dentro do quadro e quando já lá dentro, viu o seu pintor. Um homem lindo que pintava em tronco nu. Tinha os olhos molhados e a barba curta e espessa. Sentiu que ela própria era aquele homem e a sua obra.

Ele passou o dia seguinte no café. Não dormiu, não passeou, não pintou.
-Não sei… não sou capaz. Fico a olhar para a tela e não me sai nada. Não existe a tinta que preciso. Para quê fazer algo se não faz sentido? Para quê fazer algo que não é o desejo mais fundo do coração? Pela primeira vez na vida não me sai nada, nem sei se quero pintar.
Quando o sol se começou a por, foi para casa. Foi muito devagar, a olhar para o chão. Olhava para o chão por uma simples razão, sentia-se no chão. Cada vez que pensava na rapariga triste sentia uma dor forte e aguda no estômago, como se alguém lhe batesse com toda a força. Já estava cansado.
Quando acabou de subir a rampa que dava para o patiozinho entre prédios amarelos e velhos, viu-a. Ela estava ali com um vestido branco, a pôr a roupa a secar e a cantar. Os cabelos castanhos estavam dourados pelo sol e tudo aquilo era um quadro.
Ficou parado no meio do pátio. Rezou para que ela não olhasse para trás, ele nunca saberia o que dizer. Rezou para que ela olhasse para trás e para esta oração não tinha explicação. Estavam totalmente sozinhos com a excepção de dois gatos vadios que tentavam apanhar as folhas que caiam das varandas das senhoras de idade.
Uma das suas preces foi atendida.
Estava concentrada na letra do fado ligeiro que cantava sem grande afinação quando uma voz doce a despertou.
- Deixou cair isto menina…
E dito isto, um formoso homem levantou-se do chão e entregou-lhe um pano branco.
Os seus olhos ficaram presos nos dele e as mãos foram no mesmo caminho quando ele lhe entregou o pano em questão.
Ficaram quietos. Ambos sabiam que não havia qualquer necessidade de que aquele momento terminasse.
Separaram-se sem deixarem de estar juntos porque daquele momento até ao das suas mortes, seriam um do outro. Ela seria a sua tinta e ele seria a sua luz.