quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O regresso a si

Naquela manhã Verónica saiu de casa...
Era um dos dias mais frios do ano, o mar estava batido mas o sol estava alto e o céu daquele azul claro de inverno.
Verónica tinha o seu longo cabelo solto, usava uma antiga camisa do irmão. Por vezes o seu cheiro fazia querer que ele estava ali e isso reconfortava-a.
Quando chegou à praia o vento estava de tal forma violento que não conseguia manter os olhos abertos. Descalçou-se e começou a caminhar.
Agora já estava bem, já se tinha habituado à ausência do irmão e já tinha feito paz com a partida do seu amor. Não estava escrito, simplesmente não estava escrito. Sabia que o irmão eventualmente voltaria, nos últimos tempos nem era por ele que o seu coração chorava. Chorava sim por aquele a quem ela se tinha dado, mas que o destino roubara. E doía... Mas a culpa era sua por ter feito o que fez, aquele não era o seu lugar.
Não, chega de pensar mais nele, chega de pensar também em Pedro, chega de pensar no que poderia ter sido, no que poderia ter feito diferente, em quem perdera.
Estava frio, estava objectivamente muito frio...Já não tinha mais lágrimas, não iria chorar mais...
Quando acabou este pensamento um sorriso involuntário apareceu-lhe no rosto e naquele momento decidiu subir às rochas cinzentas que dividiam a praia da cidade.
Deixou os sapatos a beira mar, percorreu o areal e começou a subir. Chegou lá a cima com os pés, as mãos e os joelhos em ferida e sorriu de novo. Sentou-me, abraçou os joelhos e pôs a cara entre os mesmos, agora só via o mar... Afastou da cabeça e do coração as fantasias de criança que tinha naquele mesmo lugar, onde via o pai e o irmão chegarem no seu barco...
Nada disso interessava agora, agora só ela, o céu e o mar tinham importância. Sorriu novamente, abanou a cabeça afastando os cabelos da cara que voltou a meter entre os joelhos. Durante instantes pareceu-lhe que alguem a abraçava por trás, mas ao virar-se não viu ninguém...

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