sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Jugoslávia, 1947

-Estás feliz?

Improvisei tanto as minhas palavras naquele dia como as estou a improvisar agora.
Estávamos ali, só nós os dois. Eu amava-o, ele amava-me e estávamos ali só os dois.
Os seus olhos procuravam sossego nos meus que lhe fugiam. Naquele quarto da pequena casa perdida na serra, o seu corpo apertou o meu, afagou-me o cabelo, aproximou a cara da minha de tal forma que senti o chão a sair debaixo dos pés. Repetiu:

-Estás feliz?

Agora eram os meus olhos que procuravam os dele desesperadamente. Anui e deixei sair um “sim” que rapidamente foi abafado pelos lábios dele. A noite já tinha passado e a manhã ia a meio. Continuávamos ali, só nós dois no quarto de onde, pela janela víamos árvores até ao horizonte. Naquele momento pertencíamos um ao outro e a mais nada nem ninguém.
Eu não menti. Eu estava feliz. Naquele momento eu estava extremamente feliz. Mas sabia que era efémero. Deixei-me ficar ali deitada nos seus braços durante 2 dias. Só nós. Deixei-me acreditar que seria eterno. Não foi.
Aquele era o nosso sítio. Fugíamos para ali e ambos fingíamos que conseguíamos esquecer os próprios e os problemas do outro. Nunca o fizemos…
Víamo-nos todos os dias, falávamos todos os dias, riamos todos os dias. Mas só nos amávamos ali. Acho que ele nunca soube o quanto o amava. A falta que ele me faz hoje… o que eu não dava para voltar para os seus braços numa clara manhã de Novembro. O que eu não dava para voltar a ver o orvalho na grande janela do quarto…o que eu não dava para ser feliz de novo.

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