terça-feira, 17 de maio de 2011

C

só queria poder voltar aquele dia.
tinha tudo pela frente. nem os sonhos tinham sido sonhados.
um mundo de possibilidade e um coração intacto.
quando através dos caracóis, sem saber, sem sonhar, sem calcular,
fizeste de mim a rapariga mais feliz do mundo.
fizeste-o ao inadvertidamente quando julgaste que fazia parte do teu mundo.
foi o dia mais feliz da minha vida.
conheço a luz e as cores como se as tivesse neste momento a minha frente.

tentei seguir esse dia durante todos estes anos. criei todos os sonhos que alguma vez tive a partir dai. tudo o que sempre quis foi voltar ai. mas agora estou perdida e duvido que alguma vez voltem os caracois, as luzes e as cores. mas obrigada. deste-me 4 anos. agora vou procurar outro sonho...com mais juizo

sábado, 9 de abril de 2011

Faz de Conta

Todos o fazemos. Fechamos os olhos e por momentos, por mais pequenos que sejam, fazemos de conta. Fazemos de conta que moramos longe daqui, que temos dinheiro, que podemos agir sem pensar nas consequências. Nunca ninguém deixa de fazer de conta. mesmo que seja só para consigo mesmo durante uns escassos minutos no meio de um dia de trabalho. E é tão bom...Esquecer a parte má e viver apenas a parte boa da vida, mesmo sabendo que quando abrirmos os olhos está tudo na mesma. Por vezes é a própria vida que nos faz fazer de conta, levando-nos por um caminho, mesmo sabendo que é frágil, que a qualquer momento podemos cair e nunca mais levantar. Mas continuamos a fazer de conta. Porque no momento em que temos os olhos fechados e nos convencemos que é possível, que podemos viver os nossos sonhos, mistura-los com a nossa realidade, somos felizes. E a base de tudo isto, de todas estas voltas e vidas é tentar atingir um pouco de felicidade e por isso gosto de continuar a fazer de conta.

segunda-feira, 7 de março de 2011

A fotografia

Todos os dias aquela hora, ia sentar-se na mesa da cozinha e via através da janela, o sol a pôr-se.
Não era uma boa altura do dia, pelo contrario, acabava sempre por pensar naquilo que tinha perdido, na vida que tinha deixado fugir.
Não era infeliz, pelo contrário...Mas sentia um grande vazio, como se estivesse em divida para si própria por não ter conseguido realizar os seus sonhos.
Estes momentos nunca duravam muito tempo. O sol era rapidamente tapado pelas árvores e pelos carros estacionados ao longo da rua. Estava na hora de continuar com a vida e com as suas tarefas.
Fechava todas as janelas e ligava as luzes. Fazia o jantar e chamava os filhos.
Já depois de os deitar, ia para o seu quarto. Apagava todas as luzes, sentava-se aos pés da cama e deixava as lágrimas correrem pela cara abaixo. Sentia a agua salgada a bater no peito e nos joelhos. Nunca gritou, nunca soluçou e as lágrimas continuavam a cair.
Houve um dia, em que o luar forçou de alguma forma as cortinas e iluminou a cómoda que ela mantinha perto da cama. No topo da mesma, estavam fotografias, fotografias dos seus antepassados misturadas com inúmeras fotografias dos seus filhos e no meio de todas elas, estava uma moldura para a qual ela raramente olhava. na verdade, já nem se lembrava dela. Mas foi para lá que o seu olhar foi levado naquele momento em que a luz da noite entrou no quarto escuro.
Era uma fotografia de um grupo de amigos, do seu grupo de amigos. Quanto tempo teria aquela fotografia? 10? 15 anos? Agarrou nela e voltou para a cama. Deitou-se de costas e levantou a fotografia.
Começou a percorrer os 10 rostos com os olhos e os dedos.
Lembrava-se tão bem da noite em que aquela fotografia fora tirada...Foi numa festa em sua casa. Na sua primeira casa, naquele apartamento velho e sujo onde fora tão feliz. A casa estava cheia, todos bebiam e comiam alegremente, a música estava alta e o fumo enchia o ar. Devido a uma dor de cabeça ela tinha saido para a varanda e subido a escada que dava acesso ao telhado. Lembrava-se como se fosse hoje, do ar frio que inspirou bem fundo, naquela noite de Dezembro. Rapidamente o seu amor, com quem dividia as velhas paredes daquela casa, veio ter com ela, e com ele vieram os outros oito. conheciam-se à anos. Eram como uma família. Juntos acabaram por passar ali a noite, beberam, riram imenso e deitados nas telhas velhas e rachadas falaram pela milésima vez dos seus sonhos. Quantos filmes iriam realizar, quantos prémios iriam ganhar, quantos livros iriam escrever, quantas vidas iriam mudar. Aquela noite não foi especial, não foi diferente. Nada de novo foi dito nem sentido. Foi apenas recordada através da tal fotografia. Foi uma das raparigas que disse que não se queria esquecer daquele momento. Estava a estudar jornalismo e andava sempre com a câmara. Ainda caiu umas quantas vezes devido ao álcool que lhe corria nas veias, mas por fim conseguiu montar a câmara e correr para junto dou outros antes do flash disparar.

Há quanto tempo não falava com os rostos daquela fotografia? Lembrava-se que a ultima vez que olhara para o objecto tinha sido na manhã do funeral de um deles, da fotografa.
Ainda estava casada nessa altura...Mas agora, já tudo tinha acabado...O casamento, a vida, os sonhos...Tantos sonhos...Perderam-nos no meio da sua própria procura.
Não, ela não era infeliz, o sol é que se estava a pôr.